Ele adora essa hora, meio da tarde, quando o sol não está
tão alto e tão quente, quando está próximo do pôr do sol. O parque está vazio,
ele não se importa, ele podia estar sozinho, que ele não se importaria mesmo
assim... ele vai correr, e para isso ele nunca precisou de companhia
Mas dessa vez ele não está só.
Ela veio, achou um
belo lugar para relaxar e ler seu livro. Uma grande árvore está lhe dando
sombra... ele não sabe que árvore é ... nunca foi bom em identificá-las, mas
quem se importa, podia ser um jacarandá-rei ou uma palmeirazinha... ele só ia
olhar para ela. Ela é o plano central do seu quadro, o resto desfoca-se em sua
presença. Ela basta para encher os seus olhos.
Sim, ela é linda. E ele está plenamente apaixonado por ela.
Começa a alongar, sempre olhando pra ela... ela começa a
folhear o livro que trouxe, algo de Machado com certeza... Helena? Não, esse
ela já leu... Esaú e Jacó talvez... bem é Machado, ele tem quase certeza disso.
Não importa, pois ela só finge que folheia... ela também o olha de soslaio, o
observa alongando, e as vezes o corrige ( o olho clínico dela sempre ativo) ele
sorri, e diz : “volta pro seu livro sua marelinha linda” e continua a fazer o
alongamento, corrigindo-se lógico, do jeito que ela disse que era o correto.
Depois de um tempo alongando (ele não gosta dessa parte de
alongar... quer logo começar a correr) Ele sorri pra ela, ela devolve o gesto
com um sorriso calmo, que irradia paz, ele mostra sem falar, apenas acenando
com a cabeça que irá correr pela pista ao redor do parque. Ela balança a cabeça
concordando. Sem palavras. Só com os olhos eles se entendem... as vezes não
existe necessidade de palavras e ele admira isso nos dois... ele a olha, ela
devolve o olhar e pronto... ele sabe que ela está lá para ele e ele para ela.
Ele corre.
Isso o enche de prazer, hoje sem música, sem fones, ele
trouxe mas deixou ao lado dela. A presença dela hoje o fez ter vontade de
correr sem fones... ele quer ouvir as batidas do Tênis no chão. E quer ouvir
seus pensamentos... seus pensamentos
nela...
Ele pensa em como ele a ama e corre, percebe sem querer que
logo está voando na pista, aumentando a velocidade porque pensou nela... ele
quer terminar logo a volta, para vê-la mais uma vez... são três voltas, com
isso ele nunca deixa por menos... “menos de 5 km não é corrida” é o que ele
sempre diz pra si mesmo... então ele corre, e acerela (assim mesmo errado...
ela vai entender...) ele acerela e pensa nos dois. No caminho que percorreram
juntos... e agradece a Deus, por tudo, principalmente por tê-la conhecido...
Principalmente pelo amor que sente... ele agradece e corre.
Ele passa por ela, ela já tinha visto ele vindo de longe...
e o observa correr... e sorri, mas fala alto para que ele ouça : “ corra mais
devagar! Tá pulando muito! “
Boba... ela não sabe que ele quer terminar logo a distância
da corrida para voltar para seus braços... Boba... se ela soubesse... o quanto
ele a ama...
Ele passa e dá língua para ela, depois que passa por ela,
corre um pouco mais rápido...
Ela pensa que é descaso de sua recomendação e se chateia,
Boba... não sabe que quando ele a viu, a alegria foi tanta, que deu essa
energia e vigor que o fez correr mais rápido, mais rápido para acabar a corrida
e sentar-se ao lado dela... Boba... Se ela soubesse...
Na próxima volta ele anseia que ela te mande um beijo ou um
sorriso mais lindo. Mas dessa vez ela nem levanta a cabeça... chateada ainda...
ele fica um pouco triste... o que faz seu passo diminuir... Bobo... ela o olhou
quando ele passou e sorriu... sorriu e pensou o quanto o amava... o quanto ele
mexia com ela. O quanto ela queria que ele acabasse logo aquela corrida e
viesse ficar com ela... Bobo... Se ele soubesse...
Ele corre... e sorri. Porque é a última volta...
Ele termina... vem caminhando, percebe que ela está muito
entretida na leitura, e ele percebe que ela não está chateada, sente no ar o
clima de paz que a envolve, ela tem isso, ela é paz, ela é amor... ela é
calma... ele que é agitado, yin e yang... as vezes ela o completa em algo e
vice-versa.
Ele não quer atrapalhar a leitura e contenta-se com a
companhia...
Ele senta-se um pouco a frente dela, próximo o bastante para
que ela o toque se assim quiser, o base da árvore é uma pequena ladeira, mais
alta que a pista em que ele correu, seu cabelo fica na altura das mãos dela...
Ele sente suas mãos antes dela tocá-lo... Bobo, lógico que
ela vai trocar a leitura pelos seus beijos, mesmo suado... e ele vai ficar
feliz com isso, ela não vê seu rosto, mas sabe que ele sorriu e fechou os olhos
quando sua mão tocou em seus cabelos... ela puxa ele pra baixo. Ele deita e a
olha. Ele sabe que ela vai beijá-lo, sem dizer nada. Sem pedir, sem avisar ela
vai beijá-lo... Ela sabe que ele vai retribuir esse beijo... eles sabem, são
bobos, dois bobos, mas sabem que se amam, e nada mais importa, pelo menos no
momento, ela inclina-se em sua direção. E eles se beijam.
E no meio do beijo, ele cola sua boca em seu ouvido e
cantarola baixinho “ Fica Comigo...” Ela sabe o resto de cor... afinal foi a
primeira música que ela cantou para ele.
Ela o abraça
Ele a abraça
Eles se moram ali... um no abraço do outro...
Fin